Por Flávia Duarte
Em entrevista, médico explica o que é um biofármaco, rótulo por trás de uma geração de potentes medicamentos
A medicina busca incessantemente uma forma de controlar o funcionamento do organismo a fim de eliminar doenças, aumentar a qualidade de vida e prolongá-la ao máximo. Nesse desafio, a indústria farmacêutica se debruça em pesquisas de fórmulas e medicamentos que possam atenuar, e até anular, a seleção imposta pela natureza. Com remédios cada vez mais modernos, a ideia é de que todos os seres humanos se tornem fortes, jogando por terra a teoria de que os fracos não sobrevivem às limitações e ao comprometimento do organismo.
Na lista de drogas superpotentes, cada vez mais aparecem os medicamentos biológicos, também chamados biofármacos. São derivados de materiais vivos, como plantas, animais e microorganismos. Apesar de mais eficientes, são mais instáveis e precisam ser testados até cinco vezes mais do que um produto químico. Para explicar melhor a ação desses fármacos inteligentes, a Revista entrevistou o médico Valderílio Azevedo, professor de reumatologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e investigador do Centro de Pesquisas em Saúde Humana do Instituto Edumed para Educação em Medicina e Saúde, em Curitiba.
Como podemos definir os medicamentos biológicos?
Medicamentos biológicos são certas proteínas produzidas por células de organismos vivos, geneticamente modificados (bactérias, fungos ou células de mamíferos), e obtidas em escala industrial por métodos de fermentação e purificação, entre outros. São moléculas grandes, de estabilidade diferente. Elas se alteram facilmente com condições inadequadas de temperatura e pressão ou vibração, perdendo sua bioeficácia. Os medicamentos biológicos podem atuar como proteínas repositoras de substâncias em falta no organismo como, por exemplo, as insulinas para diabéticos. Também podem ser produtos que se destinam a neutralizar a atuação de algumas moléculas importantes na resposta inflamatória.
Em relação à atuação, como eles diferem dos medicamentos sintéticos?
Ao contrário dos medicamentos tradicionais — obtidos por métodos exclusivamente químicos e com estruturas mais simples —, os biológicos são compostos heterogêneos e instáveis, produzidos por organismos vivos e produzidos a partir de complexos processos biotecnológicos. Por serem proteínas estranhas, quando introduzidas no organismo humano podem induzir uma resposta imunológica que, muitas vezes, põe em risco o equilíbrio orgânico.
Quais os riscos de usar esse tipo de medicamento, uma vez que se trata de moléculas vivas?
Os medicamentos biológicos são imunogênicos, ou seja, podem induzir no organismo uma resposta imunológica, que pode lesar o próprio organismo ou formar anticorpos que os neutralizam, levando-os à perda de eficácia com o passar do tempo.
Como o senhor avalia a produção e o uso dos biofármacos no Brasil?
Os biofármacos começaram a ser produzidos no mundo no início da década de 1980. No Brasil, nessa mesma década, a primeira geração de biofármacos passou a fazer parte do arsenal terapêutico médico. Somente no fim da década de 1990, surgiram os anticorpos monoclonais, que fazem parte da chamada terceira geração de biológicos. Eles revolucionaram o tratamento de muitas enfermidades que afetam o ser humano. Tornaram-se também as primeiras opções terapêuticas eficazes em algumas delas. Por exemplo, até a década de 1980, crianças com deficiência de GH (hormônio do crescimento) que apresentavam nanismo recebiam esse hormônio extraído de cadáveres e isso gerava inúmeros problemas clínicos, como a demência. Isso acabou com o uso do GH produzido por organismos vivos (bactérias) e produzidos em larga escala.
Quais as principais expectativas para o uso futuro dos medicamentos biológicos?
Metade do que a indústria farmacêutica produz hoje já é composta por medicamentos biológicos ou de estruturas altamente complexas. A expectativa é de que, em pouco mais de uma década, os biológicos respondam pela imensa maioria da produção farmacêutica. Sua produção requer altos investimentos em plantas de produção situadas em parques biotecnológicos e uma política de controle rigoroso para alcançar o mercado de usuários. As agências reguladoras de países que aprovam tais produtos devem estar em constante atualização e seguir normas muito rigorosas para a aprovação e a comercialização desses medicamentos.
Há dados que afirmam que esse tipo de medicamento é cinco vezes mais testado do que os convencionais. Por quê?
Os ensaios clínicos desenvolvidos para testes de medicamentos biológicos são a única forma de avaliar a eficácia e a resposta imunológica em seres humanos. É preciso fazer isso muitas vezes e por um tempo específico, já que os efeitos imunogênicos podem demorar a aparecer. Infelizmente, os custos desses estudos também causam um impacto no custo final da comercialização dos biológicos, tornando-os mais caros.
Como está a discussão para a fabricação dos biossimilares no Brasil? Eles apresentam algum risco?
Um biossimilar é essencialmente uma tentativa de cópia de um biológico inovador. Seria, para leigos, o genérico dos biológicos. O termo genérico, no entanto, não pode ser empregado nesse caso porque os biológicos são produzidos em seres vivos geneticamente modificados e as linhagens celulares de biológicos inovadores e biossimilares nunca serão iguais. Elas são segredos industriais. Uma das maiores preocupações médicas atuais é a expiração de patentes de biofármacos inovadores, gerando assim uma oportunidade para que vários fabricantes desenvolvam biossimilares. Pequenas alterações em uma molécula biológica, nos biossimilares, podem levar a falhas secundárias ou ao aparecimento de complicações infecciosas, neoplásicas ou autoimunes.
Entenda melhor
- Medicamentos biológicos são, geralmente, usados no tratamento de doenças crônicas, como hepatites A e B, câncer, artrite e psoríase;
- Uma das diferenças dos biofármacos para os convencionais são os alvos atingidos. Enquanto os tradicionais contêm moléculas pequenas com ação em múltiplos locais, os biológicos são desenvolvidos para chegar até moléculas específicas do sistema imunológico, que são responsáveis pela doença;
- O passo inicial para o desenvolvimento de um medicamento biológico é modificar geneticamente uma célula ou microorganismo, com intuito de produzir a proteína escolhida;
- Essa célula ou microorganismo fica conservada e réplicas são cultivadas ao longo do processo de fabricação;
- A partir de determinadas condições de crescimento, dá-se início à colheita da proteína. O material é purificado, estabilizado e formulado. Em seguida, passa por ensaios clínicos e, finalmente, é produzido.
Como podemos definir os medicamentos biológicos?
Medicamentos biológicos são certas proteínas produzidas por células de organismos vivos, geneticamente modificados (bactérias, fungos ou células de mamíferos), e obtidas em escala industrial por métodos de fermentação e purificação, entre outros. São moléculas grandes, de estabilidade diferente. Elas se alteram facilmente com condições inadequadas de temperatura e pressão ou vibração, perdendo sua bioeficácia. Os medicamentos biológicos podem atuar como proteínas repositoras de substâncias em falta no organismo como, por exemplo, as insulinas para diabéticos. Também podem ser produtos que se destinam a neutralizar a atuação de algumas moléculas importantes na resposta inflamatória.
Em relação à atuação, como eles diferem dos medicamentos sintéticos?
Ao contrário dos medicamentos tradicionais — obtidos por métodos exclusivamente químicos e com estruturas mais simples —, os biológicos são compostos heterogêneos e instáveis, produzidos por organismos vivos e produzidos a partir de complexos processos biotecnológicos. Por serem proteínas estranhas, quando introduzidas no organismo humano podem induzir uma resposta imunológica que, muitas vezes, põe em risco o equilíbrio orgânico.
Quais os riscos de usar esse tipo de medicamento, uma vez que se trata de moléculas vivas?
Os medicamentos biológicos são imunogênicos, ou seja, podem induzir no organismo uma resposta imunológica, que pode lesar o próprio organismo ou formar anticorpos que os neutralizam, levando-os à perda de eficácia com o passar do tempo.
Como o senhor avalia a produção e o uso dos biofármacos no Brasil?
Os biofármacos começaram a ser produzidos no mundo no início da década de 1980. No Brasil, nessa mesma década, a primeira geração de biofármacos passou a fazer parte do arsenal terapêutico médico. Somente no fim da década de 1990, surgiram os anticorpos monoclonais, que fazem parte da chamada terceira geração de biológicos. Eles revolucionaram o tratamento de muitas enfermidades que afetam o ser humano. Tornaram-se também as primeiras opções terapêuticas eficazes em algumas delas. Por exemplo, até a década de 1980, crianças com deficiência de GH (hormônio do crescimento) que apresentavam nanismo recebiam esse hormônio extraído de cadáveres e isso gerava inúmeros problemas clínicos, como a demência. Isso acabou com o uso do GH produzido por organismos vivos (bactérias) e produzidos em larga escala.
Quais as principais expectativas para o uso futuro dos medicamentos biológicos?
Metade do que a indústria farmacêutica produz hoje já é composta por medicamentos biológicos ou de estruturas altamente complexas. A expectativa é de que, em pouco mais de uma década, os biológicos respondam pela imensa maioria da produção farmacêutica. Sua produção requer altos investimentos em plantas de produção situadas em parques biotecnológicos e uma política de controle rigoroso para alcançar o mercado de usuários. As agências reguladoras de países que aprovam tais produtos devem estar em constante atualização e seguir normas muito rigorosas para a aprovação e a comercialização desses medicamentos.
Há dados que afirmam que esse tipo de medicamento é cinco vezes mais testado do que os convencionais. Por quê?
Os ensaios clínicos desenvolvidos para testes de medicamentos biológicos são a única forma de avaliar a eficácia e a resposta imunológica em seres humanos. É preciso fazer isso muitas vezes e por um tempo específico, já que os efeitos imunogênicos podem demorar a aparecer. Infelizmente, os custos desses estudos também causam um impacto no custo final da comercialização dos biológicos, tornando-os mais caros.
Como está a discussão para a fabricação dos biossimilares no Brasil? Eles apresentam algum risco?
Um biossimilar é essencialmente uma tentativa de cópia de um biológico inovador. Seria, para leigos, o genérico dos biológicos. O termo genérico, no entanto, não pode ser empregado nesse caso porque os biológicos são produzidos em seres vivos geneticamente modificados e as linhagens celulares de biológicos inovadores e biossimilares nunca serão iguais. Elas são segredos industriais. Uma das maiores preocupações médicas atuais é a expiração de patentes de biofármacos inovadores, gerando assim uma oportunidade para que vários fabricantes desenvolvam biossimilares. Pequenas alterações em uma molécula biológica, nos biossimilares, podem levar a falhas secundárias ou ao aparecimento de complicações infecciosas, neoplásicas ou autoimunes.
Entenda melhor
- Medicamentos biológicos são, geralmente, usados no tratamento de doenças crônicas, como hepatites A e B, câncer, artrite e psoríase;
- Uma das diferenças dos biofármacos para os convencionais são os alvos atingidos. Enquanto os tradicionais contêm moléculas pequenas com ação em múltiplos locais, os biológicos são desenvolvidos para chegar até moléculas específicas do sistema imunológico, que são responsáveis pela doença;
- O passo inicial para o desenvolvimento de um medicamento biológico é modificar geneticamente uma célula ou microorganismo, com intuito de produzir a proteína escolhida;
- Essa célula ou microorganismo fica conservada e réplicas são cultivadas ao longo do processo de fabricação;
- A partir de determinadas condições de crescimento, dá-se início à colheita da proteína. O material é purificado, estabilizado e formulado. Em seguida, passa por ensaios clínicos e, finalmente, é produzido.
Fonte: Pfizer
Postado no site Correio Braziliense em 07/04/2011
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