O II Fórum Latino Americano de Biossimilares e III Fórum Brasileiro de Biossimilares são constituidos por um ciclo de palestras direcionado à comunidade médico-científica, a gestores do sistema público de saúde e a demais interessados, a fim de promover o debate acerca das novas diretrizes da área dos medicamentos biológicos.
O evento tem como objetivo a elucidação e a discussão de questões relacionadas aos biossimilares e à indústria biofarmacêutica, bem como a suas implicações científicas e sociais. Este blog apresenta-se como uma extensão do fórum. Vamos pautar e incrementar a discussão sobre os biossimilares, articulando argumentos e promovendo debates on-line nos comentários dos textos publicados.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

BIOSSIMILARES: DESAFIO PARA O FUTURO PRÓXIMO

Por Antônio Carlos Pires 

Os chamados biossimilares são um subgrupo de medicamentos biológicos com qualidade, tolerabilidade, segurança e eficácia comparáveis a um medicamento biológico.
Os biológicos são moléculas complexas instáveis, de alto peso molecular e sintetizadas a partir de organismos vivos, como bactérias, leveduras ou células de mamíferos por meio de DNA recombinante ou por métodos de expressão gênica controlada. São alguns exemplos de medicamentos biológicos, o fator VIII, insulina humana, eritropoetina, vacinas, interferons e anticorpos monoclonais.
Atualmente, entre os medicamentos em desenvolvimento aproximadamente 50% deles são biológicos ou derivados de processos biotecnológicos. Os biológicos e biossimilares são moléculas complexas, heterogêneas, tais como, proteínas terapêuticas, glicoproteínas, polissacarídeos. Portanto, os biossimilares são similares, mas não são idênticos aos biológicos de referência.
Por conseguinte, não são intercambiáveis. Apesar dos medicamentos biológicos terem revolucionado o tratamento de doenças crônicas, infecciosas, cânceres, doenças hematológicas e outras, a imunogenicidade é a grande preocupação em relação à segurança dos biológicos e biossimilares. Pode-se explicar a imunogenicidade como sendo a capacidade de uma proteína terapêutica induzir a formação de anticorpos pelo organismo humano ou ainda, interferir na tolerância imunológica.
É importante salientar que alguns fatores são importantes precipitantes da imunogenicidade, tais como, sequência modificada de aminoácidos, impurezas, agregados, glicosilação de moléculas protéicas, via de administração, armazenamento e obviamente, a particularidade do sistema imune do indivíduo. Por isso, é de fundamental importância que se estabeleça um plano de farmacovigilância de pelo menos um ano após o registro desses biofármacos, uma vez que, não há métodos laboratoriais específicos para avaliar potenciais riscos de efeitos imunológicos adversos.
Por isso é de fundamental importância que os médicos estejam conscientes sobre a complexidade do tema biofármacos por que a decisão de prescrever um biológico ou um biossimilar é unicamente do profissional assistente. Ao mesmo tempo é oportuno discutir sobre os medicamentos genéricos e similares para que possamos entender melhor e traçar um paralelo com os medicamentos biológicos e seus similares.
Por definição, os genéricos são equivalentes a um produto de referência ou inovador, são intercambiáveis e produzidos após a expiração ou renúncia patentária. Eles devem conter o mesmo princípio ativo, ser usados na mesma dose e via de administração do fármaco de referência. São moléculas sintéticas de baixo peso molecular, sendo que, a eficácia, a segurança e a qualidade devem ser comprovadas por meio de ensaios clínicos de biodisponibilidade para comprovação da bioequivalência (Lei 9787, de 10 de fevereiro de 1999).
A biodisponibilidade indica a velocidade e a quantidade de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem a partir de sua curva de concentração e tempo na circulação sistêmica e a sua excreção urinária, ou seja, representa a farmacocinética de um fármaco. A bioequivalência é a equivalência farmacêutica entre produtos com a mesma formulação química, contendo idêntica composição qualitativa e quantitativa e que tenham comparável biodisponibilidade.
A bioequivalência é que permite e sustenta a intercambialidade. A intercambialidade pode ser definida como sendo a escolha de uma droga entre duas ou mais com os mesmos propósitos terapêuticos ou preventivos. Na prática, a importância de um produto genérico é seu custo bastante reduzido para o consumidor final.
É também plausível comentar sobre os chamados medicamentos similares que são derivados de síntese química e estão no mercado antes dos genéricos, mas com uma diferença, são obrigatoriamente comercializados com um nome de marca.
Em resumo, os genéricos e os similares são moléculas sintéticas, de baixos pesos moleculares e desenvolvidos após a expiração de patente dos fármacos de referência. São intercambiáveis e a eficácia deve ser demonstrada por meio de ensaios clínicos de biodisponibilidade para comprovar a bioequivalência.
Os biológicos e os biossimilares são moléculas complexas, heterogêneas, de alto peso molecular e sintetizados a partir de organismos vivos geneticamente modificados. Pela complexidade e a impossibilidade de reprodução total de suas moléculas não são intercambiáveis e a eficácia e a segurança devem ser demonstradas por meio de testes pré-clínicos, tais como qualidade da molécula, testes de toxicidade aguda e crônica em animais e ensaios clínicos de fases I, III e IV. 
A análise de comparabilidade com o biológico de referência, normalmente realizada na fase III, é determinada por meio de testes estatísticos de não-inferioridade ou de equivalência.


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